"A reflexão do Professor André Escórcio é um retrato das preocupações da comunidade científica na área da Educação. Aqui se incluem todos os que anseiam pelo combate ao comodismo, à rotina, à reprodução de conteúdos para produção fabril de massas populacionais certinhas mas pouco pensadoras. Ao longo destes anos, a única coisa que alcançámos foi o mesmo tempo de escola pública para todos (12 anos) mas não a mesma qualidade. E ainda assim, dividimos os alunos por turmas consoante as suas alegadas capacidades, embora se encha o peito para dizer que isso não acontece. Mas precisamos todos do mesmo tempo de ensino? E do mesmo currículo? Das mesmas experiências?".
É desta forma que a deputada do JPP, Patrícia Spínola, começa por abordar o 'Raio X' de hoje, centrado na Educação.
A parlamentar tece ainda considerações sobre outros aspectos, deixando claro que "a escola deixou de ser atrativa porque parou no tempo". "Não houve aposta na sua modernização. O giz, o quadro negro e os professores que compram o próprio material de trabalho, continua a ser uma aposta económica. Pontualmente, equipam-se escolas com quadros interativos e promete-se tablets para todos a curto prazo, mas esquecem-se de garantir quem fará a sua manutenção diária e de formar quem vai dar o correto uso a essas ferramentas. Os cenários de ensino continuam os mesmos. As escolas encerradas não foram canalizadas para abordagens pedagógicas diferenciadas. As interrupções letivas são usadas para guardar rebanhos sem qualquer atividade inovadora promovida pela tutela. Os rankings continuam a seguir os mesmo critérios de avaliação, ou seja, a comparar o incomparável", refere.
Patrícia Spínola sugere uma mudança que implica alteração do pensamento, mesmo que alterar o pensamento choque com questões culturais e isso gere constrangimentos. "'Melhor deixar como está', seguir 'o rebanho', pensam as pessoas e a maioria dos políticos que não são formados na área. Certo é que os políticos não aprofundam os seus conhecimentos nas matérias que compõem os seus dossiês, ora por falta de tempo, de recursos materiais e humanos ou, simplesmente, de vontade, perante uma maioria absoluta que tudo reprova. Por outro lado, veem que a meritocracia política não passa pela competência, por provas dadas, mas essencialmente por árvores genealógicas. Curioso também é notar que as promessas eleitorais já colocadas no terreno para a área da educação, principalmente no que à carreira docente diz respeito, não foram alvo de propostas de alteração dessa legislação, durante a discussão na especialidade, por parte dos mesmo partidos da oposição que agora as reivindicam", diagnostica.
Também abora a quebra demográfica, sublinhando que "esta é, efetivamente, uma oportunidade para promover um ensino de excelência mas é vista pelos governantes como um mealheiro onde se podem poupar uns trocos". Mais, salienta: "Fecham-se ou fundem-se escolas para manter as turmas grandes e diminuir o número de professores. Há novas apostas mas são singelas e envergonhadas. Ergue-se a bandeira do ensino artístico mas mantém-se um Conservatório num edifício inadequado para o exercício e magnitude da excelência alcançada pelo mesmo. Fala-se na aposta no Ensino Profissional mas continuamos com um espaço novo e subaproveitado quando há tantas profissões em vias de extinção na nossa Região, que mereceriam uma formação orientada, e das quais dependem os nossos produtos regionais. Arrumam-se os utentes dos Centros de Atividades Ocupacionais em edifícios desadequados às suas condições fisicas e intelectuais e para ali ficam esquecidos entre mudanças de tutela".
Neste cenário, conclui que, "no formato em que estudamos, não há Renovação que parta de meia dúzia de decisores à distância. Nas palavras de Lincoln, o sistema de educação deve ser do povo, pelo povo e para o povo. Sem o contributo deste, andamos sem destino".