"O Turismo na Madeira apresenta-se em contraciclo, isso é preocupante e contradiz a propaganda oficial do Governo Regional, as estatísticas dos 70 meses em crescimento e a descida do desemprego", afirmou ao DIÁRIO o coordenador do Bloco de Esquerda /Madeira, Paulino Ascenção, em reacção ao 'Raio X' divulgado hoje no nosso liveblog.
Para o bloquista as discrepâncias resultam de "muita criatividade estatística" e frisa que, apesar dos constrangimentos serem conhecidos, "as soluções tardam".
O dirigente do BE passa a enumerar: "Nas ligações aéreas temos preços absurdos que resultam da liberalização da linha aérea decidida em 2008 pelo PSD (e aplaudida por PS e CDS) e agravados pelo modelo de subsidio de mobilidade de 2015, concebido à medida das expectativas de lucros dos investidores privados".
Por outro lado, refere que "o Governo da República, como também dá preferência aos interesses dos investidores, nada faz" e que "a proposta do Parlamento Regional de ter preço fixo para residentes e livre para as companhias é impraticável, seria um saco sem fundo para o Orçamento e o descalabro nos preços para não residentes". "Só faz sentido ter preços fixos no âmbito de um regime de serviço público", frisa.
Paulino Ascensção lembra ainda que "não há plano de contingência para os dias de vento no aeroporto", considerando que "o recurso ao Porto Santo é a opção óbvia e menos custosa para passageiros e companhias que o regresso à origem", mas que esta teria de ser "combinada com uma ligação marítima mais rápida". A seu ver isto "mexe nos interesses instalados e não se vê, coragem política para tal".
A propósito da questão do teto máximo, o BE considera que sem este teto "os preços só podem disparar". "A tese que o teto dos 400 € é que puxa os preços para cima é estapafúrdia, desafia todas as lógicas quer da física quer dos modelos de análise económica da oferta e da procura", enfatiza.
Nos portos diz que ao passo que o tráfego de navios de cruzeiro cresce em Canárias, Açores e Lisboa, este está "estagnado por cá". Uma das causas, aponta. é o “aborto” do cais 8 e a "ocupação do porto por actividades extravagantes (hotéis, museus, lota)", bem como "a ausência de ferry". "Valores mais altos (privados) se sobrepõem ao interesse público", vinca.
Paulino Ascenção diz que "o crescimento da oferta deve ser ponderado sob pena de desqualificar o destino Madeira e a reputação secular". "O objectivo não pode ser trazer mais aviões para encher o Savoy e as construções anunciadas", realça defendendo que "a massificação do turismo colocaria uma pressão insuportável na floresta e também sobre o preço das habitações, junto com a pressão para redução de preços e dos custos (os salários)". Tudo isto com a consequência de que o custo de vida dos madeirenses passa "de mal a pior".
Para concluir, afirma que "a Madeira está dependente de factores externos que não domina", pelo que a introdução de uma companhia aérea própria poderia ser um "instrumento estratégico para o turismo". Neste sentido, lamenta que o PSD preferira "acumular razões de queixa que apresentar resultados".
"O controlo da gestão dos aeroportos e dos portos também é fundamental para implementar as políticas de taxas mais convenientes, em defesa do interesse público e garantir igualdade de tratamento entre os operadores que pretendam utilizar essas infraestruturas", rematou Paulino Ascensão.